Em 2018 fui convidado para palestrar numa reunião mensal de resultados de uma empresa da nova economia. Uma dessas que são “hype”, vivem aparecendo na imprensa, cheia de ideias malucas, dirigida por um visionário aloprado e que teima em se mostrar quebrando regras de negócios. E só fala em milhões, embora todo mundo fique desconfiado de sua capacidade de um dia apresentar resultados. Cheguei para a palestra uma hora mais cedo, como sempre faço, exatamente quando começariam as apresentações dos diversos grupos de funcionários que durante as horas anteriores haviam se debruçado sobre dois ou três problemas fundamentais da empresa. Agora era hora dos grupos apresentarem seus diagnósticos e recomendações. Fiquei curioso para assistir, e minha curiosidade aumentou conforme cada grupo subia no palco para se apresentar. A primeira questão era estética. Eu, que venho do mundo corporativo, acostumado a uma certa estética e ritos das apresentações do mundo dos negócios, me sentia deslocado ali, com a roupa, os cabelos, as tatuagens daquele pessoal. Era evidentemente um outro mundo, muito diferente daquele no qual fui treinado. Mas o que me incomodava mesmo era atitude daqueles grupos. As apresentações não tinham qualquer sinal de respeito ao negócio. Eram sucessões de pregações lacradoras, “temos que isso”, “temos que aquilo”, num idioma parecido com o português, com “tá ligado” e coisas parecidas no final. E em minha mente ficava uma questão: tá certo, mas cadê o compromisso com o resultado da empresa? Com o que chamávamos de botton line? Nada. A lacração era sensacional, mas sobre resultados, nada. E aquilo me acendeu um aviso. Será que era um padrão dessas empresas cheias de frescuras, mas com resultados no mínimo duvidosos? Se era, viriam quebradeiras homéricas pela frente, quando o mercado e os acionistas se cansassem da conversa mole e exigissem resultados. Bem, aquela empresa quase quebrou, quando o mercado percebeu que não entregariam o prometido. Sumiu dos holofotes, trocaram o CEO e foi um pequeno escândalo. Agora quebra o Silicon Valley Bank, que apresenta todas as características que vi naquela reunião: muita festa e resultados questionáveis. Cara, eu devo estar muito velho, viu? Não consigo me desvencilhar de um pensamento retrógrado que diz: primeiro o lucro. Todo o resto é consequência. Mas a turma teima em “primeiro as consequências e depois, se der, o lucro.” Isso não vai dar certo. Continuo a reflexão neste vídeo.
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