Das profundezas da sua dor, as almas do Purgatório fazem elevar-se até vós, meu Deus, palavras de inteira resignação. Elas bem sabem ter merecido as penas que as oprimem, mas aceitam-nas com calma e submissão. Mereceram a pena da condenação, isto é, a privação, por algum tempo, da visão beatífica de Deus. Doloroso é não ver-vos, ó Deus. Vós que sois a bondade infinita, o eterno amor; - vós o centro de todo o ofuscante esplendor; - vós o único que podeis saciar o coração humano; - vós que não podeis nunca ser posto em esquecimento; - vós que sois a meta pela qual anseiam todas as faculdades da alma, assim como a corça sedenta que anseia pela fonte. Esse é o mais cruel dentre os sofrimentos do Purgatório; e não há palavra, não há imagem que possa exprimi-lo. Mereceram a pena dos sentidos. O fogo e os vários tormentos correspondentes e proporcionados a cada uma dessas prisioneiras, segundo a importância, o número e a duração das culpas, superam tudo o que o sofrimento conhece de mais penoso sobre a terra, onde infelizmente cada um acha bem dura a própria cruz. Todas essas várias penas, as almas santas do Purgatório as aceitam na medida do tempo indicado. Reconhecem a justiça do castigo. Beijam a mão que as pune. Bendizem as chamas que as purificam. Adoram a vossa vontade infinitamente santa, ó supremo Juiz dos vivos e dos mortos. E resignam-se, com o coração contrito e humilhado, por vos terem ofendido tanto e tão frequentemente. Obediência absoluta: eis a única barreira que se interpõe entre vós e elas. Ainda que as suas cadeias se quebrassem e as portas da prisão se abrissem, elas continuariam imóveis no seu lugar, até o momento exato fixado por vós. Pelos merecimentos da vossa Paixão, concedei, ó Divino Coração de Jesus, que as nossas humildes orações sejam um refrigério para essas almas queridas, tão resignadas na sua profunda aflição.
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